Mensagem
Como qualquer português, tenho um coração de ouro naturalmente propenso a todo o tipo de sentimentos nobres e uma lágrima que permanentemente espreita por trás de meus dóceis olhos castanhos, pronta a ser vertida quando as injustiças deste mundo - e são tantas! - me tornam carregado o semblante e esmagam a consciência judaico-cristã, que ao encontrar no meu íntimo somente o bom e o belo é forçada a sentir-se culpada pelos outros, a sofrer o mal que é dos outros, a chorar baixinho com os outros. Que é esta vida senão um vale de lágrimas?
Nasci para sofrer. Sou avesso à maldade. Todo o meu peito é saudade, humildade, compaixão. Sou português: o mundo não merece povo tão bom! Contento-me com pouco: uma açorda de coentros, uma malguinha de carrascão. Obrigado e desculpe. Se mesmo este pouco me quiserem tirar, eu deixo, resisto apenas o mínimo necessário para que o ladrão não seja tomado pelo remorso antes mesmo de consumar o crime - que os ladrões portugueses também têm bons sentimentos, se roubam é porque a isso são obrigados por via de seu mister. Pesado é o seu fardo, sinto compaixão também por eles. E afinal de contas, mesmo que me falte o pão, não me há-de faltar nada, basta-me a lembrança dos tempos em que comia açorda de coentros para que esta cebola amarga me saiba, não a açorda de coentros, mas a bife do lombo, porque é esse o gosto que tem a açorda de coentros dos velhos tempos agora que me lembro dela. Não me falta nada, a vida corre sem sobressalto, as casas são caiadas, os pinheiros-bravos dançam ao vento, ouve-se ao longe o trinar melancólico de uma guitarra, e continuo hoje e sempre incrédulo à espera do retorno do que nunca foi. Afortunado que sou, não tenho um messias, tenho mil. Grande será a minha recompensa. Um dia.
Ó pedras da calçada a cheirar a mijo! Ó prédios feios atrás de prédios feios! Ó eucaliptais! Ó rotundas! Ó céu, rios e mar desta terra abençoada com um excelente clima para a prática de golfe! Sois vós as musas deste canto pranto quebranto à beira-mar plantado, dieta mediterrânica, Florida da Europa.
Nasci para sofrer. Sou avesso à maldade. Todo o meu peito é saudade, humildade, compaixão. Sou português: o mundo não merece povo tão bom! Contento-me com pouco: uma açorda de coentros, uma malguinha de carrascão. Obrigado e desculpe. Se mesmo este pouco me quiserem tirar, eu deixo, resisto apenas o mínimo necessário para que o ladrão não seja tomado pelo remorso antes mesmo de consumar o crime - que os ladrões portugueses também têm bons sentimentos, se roubam é porque a isso são obrigados por via de seu mister. Pesado é o seu fardo, sinto compaixão também por eles. E afinal de contas, mesmo que me falte o pão, não me há-de faltar nada, basta-me a lembrança dos tempos em que comia açorda de coentros para que esta cebola amarga me saiba, não a açorda de coentros, mas a bife do lombo, porque é esse o gosto que tem a açorda de coentros dos velhos tempos agora que me lembro dela. Não me falta nada, a vida corre sem sobressalto, as casas são caiadas, os pinheiros-bravos dançam ao vento, ouve-se ao longe o trinar melancólico de uma guitarra, e continuo hoje e sempre incrédulo à espera do retorno do que nunca foi. Afortunado que sou, não tenho um messias, tenho mil. Grande será a minha recompensa. Um dia.
Ó pedras da calçada a cheirar a mijo! Ó prédios feios atrás de prédios feios! Ó eucaliptais! Ó rotundas! Ó céu, rios e mar desta terra abençoada com um excelente clima para a prática de golfe! Sois vós as musas deste canto pranto quebranto à beira-mar plantado, dieta mediterrânica, Florida da Europa.

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